quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Inovação Mineira: Os Seminovos

Tem um lugar em Minas inovando em modelos para a indústria cultural: Uberlândia.

A terra natal de Alexandre Pires e mais conhecida nacionalmente pelas ótimas bandas de pagode, tem dado demonstrações de que os habitantes do triângulo mineiro estão prontos para inventar moda com relação a novos negócios na internet

Acho que dá para afirmar que o pai de todos seja o Maurício Ricardo, criador do conhecidíssimo site “Charges.com.br”. Maurício mostrou que estar localizado no Rio de Janeiro ou em São Paulo para produzir cultura altamente bacana e popular não passa de uma falsa necessidade (para usar as palavras do professor Mangabeira Unger). A partir de Uberlândia mesmo, Maurício coordena através do site uma produção humorística intensa, que gera uma série de negócios bacanas, fornecendo conteúdo e participando de diversos projetos culturais em todo o Brasil. O bacana é ver que foi a tecnologia que serviu não só de matéria-prima (o site usa o computador para produzir praticamente todo seu conteúdo) como também de canal de divulgação. O sucesso do Charges.com.br é produto direto da internet chegando aqui no interior do Brasil.

Depois do Maurício Ricardo, houve várias outras iniciativas. Uma delas foi destacada aqui no Overmundo, que foi o primeiro projeto de financiar o lançamento de um DVD totalmente online. Não sei se a iniciativa foi bem sucedida ou não (espero que o Nanji possa contar), mas o modelo de lançamento consistiu em um legítimo representante dos chamados “modelos de negócio abertos” ou “open business models”, conforme a Oona Castro já escreveu aqui no Overmundo.

Depois de tudo isso, eis que me deparo com mais uma iniciativa inovadora genuinamente uberlandense: o lançamento do CD da banda “Os Seminovos”. Formada por conhecidos e tradicionais músicos da região, a banda aposta alto na divulgação pela internet como forma de fazer conhecer o seu trabalho. Tendo como um dos seus integrantes o próprio Maurício Ricardo (alô Maurício, quando é que você vai aparecer aqui no Overmundo?), os “Seminovos” atacam forte pelo humor para conquistar um público nacional. A estratégia é parecida com a mesma que levou ao sucesso da Mombojó de Recife: disponibilizar o disco da banda na íntegra na internet. Aliás, o disco é peculiarmente chamado de “Não Tem Preço” e pode ser baixado em sua totalidade gratuitamente pela rede.

Mas não é só. Como bons velhacos da internet, a banda sabe que canais como o YouTube, o Orkut e outras formas de marketing viral estão do lado deles. O jornal “Correio de Uberlândia” noticiou, por exemplo, que uma das comunidades do Orkut sobre a banda já tem 11 mil integrantes. Não fui lá para conferir, mas se for verdade (e deve ser, afinal o “Correio” é muito respeitado!), é gente pra caramba, especialmente para uma banda que está no início da carreira.

Outro ponto que chama a atenção nos “Seminovos” são as músicas com forte conteúdo humorístico. Um exemplo é a faixa “Eu sou Emo”, uma verdadeira ode às agruras de ser "emo" (membro da bacana tribo de meninos e meninas sensíveis, que adoram roque pesado e emocional e capricham no visual para refletir sua sensibilidade) no mundo de hoje, com trechos iluminados como:

“Não é fácil manter a franja lisinha
Tenho que fazer escova e chapinha
Mais difícil ainda é ver o mundo assim do meu jeito:
O cabelo tampa o olho esquerdo
E eu só posso usar o direito!
Impossível...
Ser mais sensível do que eu!”

O outro exemplo é a música “Do Tipo I Love You (Drive My Car)”, chupinhada diretamente dos Beatles, e tropicalizada (ou eu diria, triangulo-mineirizada) pelo Maurício Ricardo. A letra diz o seguinte:

“Estava em Minas, você em Amsterdã
Você ficou pelada na webcam
Gravei você dançando sem sutiã
Mas não postei, eu sou seu fã!

Refrão:
Baby eu juro pra você
O vídeo vazou porque
Deu vírus no meu PC
Do tipo I love you”

Quem disser que os Seminovos se propõem a ocupar o lugar de um “Mamonas Assassinas” revivido na época da Internet não vai estar muito errado não. Outro fato interessante é que a banda possui uma visão clara do que está fazendo, em sintonia com o espírito de “faça você mesmo” que está tomando conta deste século. Quem procurar no site da banda vai encontrar um bem-humorado “manifesto” que diz:

1. “Os Seminovos” acreditam que estamos vivendo um momento único na história da música.

2. A velha ordem está ruindo. Bem vindo o novo!

3. Que a difusão por amizade, viral, através da Internet,
faça com que cada música sincera encontre seu público.

4. Que a facilidade na troca de informações, a queda no custo das gravações e a oportunidade de distribuição global sem necessidade de um produto físico ajude a acabar com os vícios que corromperam a indústria da música.

5. Pelo fim do jabá nas rádios.

6. Total apoio aos programadores de rádio antenados e corajosos, que não se deixam influenciar pelo “Top 10” de meia dúzia de redes de emissoras via satélite.

7. Pelo fim da cegueira de alguns setores da imprensa musical, que ainda se pautam confortavelmente pelos press-releases e mimos das gravadoras.

8. Por mais transparência e ética no mercado de discos.

9. Pelo combate à pirataria, sim, mas com preços realistas de CDs, DVDs e downloads.

10. Pelo fim da cerveja quente nos shows de rock.

11. Pelo fim do machismo: por que só o Bono? Queremos que Britney Spears e Avril Lavigne também beijem seus fãs na boca!

Enfim, resta apenas desejar longa-vida e sucesso aos Seminovos e dizer que o Overmundo e o Overmixter aguardam ansiosos para receber o trabalho deles.*

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